A campainha tocou. Por ele poderia tocar o quanto quisesse desde que não o incomodasse tanto. Rolou de um lado para o outro da cama, tentando resistir à insistência de quem queria acordá-lo naquele horário.
Abriu os olhos e interrompeu seu sono, os mesmos se fecharam em
protesto, mas ele tornou a abri-los e seguiu até a porta cuidadosamente para
não acordar sua esposa.
Ao passar pela sala acendeu a luz, olhou no relógio e viu que marcava
duas horas da madrugada. Ele hesitou instantes antes de por a mão na maçaneta,
pois já era tarde, imaginava o tipo de pessoa bateria na porta de alguém uma
hora dessas. Mas já estava lá, não voltaria para cama sem sequer saber quem lhe
incomodara.
Abriu a porta. Olhos bem conhecidos estavam fixos nele. Olhos
desconhecidos que há um bom tempo ele desejava desconhecer. Fechou a porta sem
pensar duas vezes, virou e quando começou a seguir em direção ao seu quarto a
campainha voltou a tocar. Ele ignorou e segundos depois ela tocava com mais
insistência. Irritado e com sono ele tornou a abrir a porta antes que sua
esposa acordasse.
- O que você quer de mim Melissa? – Falou irritado, com a voz baixa.
Melissa foi sua namorada. Passaram muitos anos juntos, e ele
atrevia-se a dizer que a amava. Era tão apegado a ela que sentiu uma de parte de si ir
embora quando ela decidiu estudar em outro país. A distância, para ele, já era
algo incompreensível. O que ela disse para ele só confundiu inda mais seus
sentimentos.
- Precisamos conversar – ela disse. – Não vai me convidar para entrar?
- Não – falou rispidamente – não é hora pra isso. Vá embora.
Ele já ia fechar a porta novamente quando ela entrou na casa sem sua
permissão. O cabelo dela passou perto de seu rosto, e ele pode sentir o cheiro
dos seus cabelos, exatamente o mesmo de cinco anos atrás.
- Eu tenho muito que falar – disse ela que já estava totalmente
acomodada na sala.
- Eu não estou disposto, e nem quero ouvir o que você tem a me dizer.
- Ma precisa. É só isso que quero.
- Não posso fazer muita coisa.
- Na verdade pode. Olha pra mim, eu voltei. Voltei pra você.
- Por pura ingenuidade – ele falava ainda segurando a maçaneta,
tentando não olhar diretamente nos olhos dela. – Você pensou que eu ia te
esperar pra sempre?
- Na verdade sim.
- Pois saiba que não foi bem assim que aconteceu. Diga logo tudo que
precisa dizer, não quero que essa conversa dure mais do que o necessário.
- Vai durar o tempo que for necessário.
- Pois retire-se, para mim foi o suficiente.
- Não, não foi. E pare de agir como uma criança de cinco anos.
- Cinco anos, mesmo? – Ele bateu a porta e virou-se pra ela. – Cinco
anos é tempo demais sabia? O que surpreende é o fato de você ainda lembrar de
mim!
- Mas eu lembro. Perfeitamente.
- E você acha que isso basta?
Ele não precisava disso. Não precisava mais de Melissa de volta, até
mesmo pela sua instabilidade. Sabia que a qualquer hora seria deixado de lado
novamente.Nunca foi prioridade na vida dela. Da primeira vez ela foi embora sem
pensar duas vezes, nem passou pela sua cabeça largar tudo para ficar com ele.
Era uma mente bastante fria, talvez até a mais fria pela qual ele passou. Tinha
acabado de chegar à casa dela, com um sorriso no rosto e uma aliança no bolso.
Esse dia tinha tudo para ter sido o melhor de sua vida.
Mas não foi. Sequer passou perto.
Ainda na porta da casa dela ele recebeu a noticia que apagaria sua
felicidade: ela iria viajar. Passaria um bom tempo fora e não queria estar
comprometida com ninguém que estivesse longe dela.
- Você lembra do que fez? – Ele perguntou, com uma voz rouca de sono e
tristeza. – Tenho certeza de que aquilo não foi um pedido para que te
esperasse.
- E o que você queria que eu fizesse?
- Exatamente o oposto do que fez!
- Me diz do que você precisa...
Ele precisava de muita coisa.
De um beijo, um abraço, um pouco de carinho, de atenção, de conforto,
liberdade. Queria confiança, compreensão, independência, amor. Melissa não
ofereceu tudo isso quando pôde. Sua atual esposa não oferecia tudo isso também.
- Não preciso de nada – ele respondeu. – Não preciso de nada.
- Honestamente, você não precisa de nada mesmo?
Em algum lugar ele sabia que estava tão feliz por vê-la, mesmo que
isso parecesse um minúsculo sentimento comparado a vontade de agredi-la,
humilhá-la e ofendê-la da maneira que pudesse. Queria que ela sofresse ao menos
um terço do que ele sofreu.
- Você não vê que voltei por você?
- E eu não te pedi pra voltar. Devia ter ficado mais do que obvio que
eu não queria mais olhar na tua cara. Você devia saber que o que você fez não
se faz com ninguém!
- Então olha o fundo dos meus olhos e me diz o que você sente.
Alem de confuso ele se sentia frustrado, irritado, cansado,
angustiado. Em relação a ela e sentia
certa alegria, raiva, nojo, desprezo... Mas preferia não sentir coisa alguma.
- Pra falar a verdade – ele mentiu – não sinto coisa alguma.
- Você está mentindo! – ela disse e aproximou-se dele.
- Na verdade estou – disse aproximando-se dela e segurando um de seus
braços com firmeza. – O que sinto agora é uma vontade imensa de ter você longe
de mim.
- Mas essa vontade que você têm é sem razão!
- E o fato de você está na minha casa a essa hora tem sentido?
Ela soltou seu braço da mão dele, chutou alguma coisa que não viu no
chão.
- Eu vou te pedir mais uma vez – falou ele controlando a raiva. – Saia
da minha casa, por favor.
- Você disse que não ia me deixar! – Melissa falou soluçando.
- MAS FOI VOCÊ QUEM ME DEIXOU! – Ele gritou. – Se possível, também
saia da minha vida!
Para ele foi o pedido mais difícil de fazer. Para ela foi o pedido
mais difícil de ouvir.
Ela saiu. Não só saiu da casa como estava decidida a nunca mais voltar
a vida dele. Logo se recuperaria do acontecido, seu coração se adaptava
facilmente a qualquer um.
Já ele viveria infeliz. Ao lado de uma mulher que o amava, mas não era
amada como merecia. Ele faria o possível para suprir as necessidades dela, e
ela, embora tentasse, nunca conseguiria dar a ele o necessário.
Ele não era completamente feliz e sua felicidade influenciava
diretamente na vida dela. Ele sempre receberia amor insuficiente porquê havia
colocado em sua cabeça que melissa seria a única que saberia como amá-lo.
As vezes eu acho que a bandeira do machismo é o orgulho. Orgulho tem seus dias de glória, mas de esquecimento também.... Lindo conto....
ResponderExcluirééé
ResponderExcluirO certo seria ele voltar pra vagabunda. Ter uns dois, quem sabe tres, anos de felicidade e passar o resto da vida sofrendo depois dela largar ele de novo.
ResponderExcluirOrgulho não é a bandeira do machismo, é uma forma distorcida de dizer que se tem amor próprio.
Ele fez muito certo em não esperar, não digo casar, mas o primordial fato de não esperá-la. Amor próprio ele teve nesse determinado momento, em que escolheu viver sua vida com sem ela fisicamente, mesmo que isso não signifique viver sem ela mentalmente. Porém falo de orgulho, a partir do momento que ele reconhece que gosta dela, tem algum sentimento por ela, e mesmo assim não é franco com ele mesmo. Ele não tinha obrigação de tratá-la bem, de acordo com seus sentimentos, mas o que acha que ele sentiu depois que ela foi embora? alivio e frustração, alívio porque escolheu o amor próprio e frustração porque o orgulho sequer permitiu ele sorrir a ela, sem precisar dizer uma palavra, e então ao menos ele conviver com um desabafo indireto.
ExcluirSorrir para alguém que te fez sofrer, e que o fará sofrer de novo... Hmmmm, estou começando a entender porque homens que espancam mulheres, fazem tanto sucesso entre as mesmas.
ExcluirDesculpa a forma como eu disse isso, mas é a verdade. Não querer que o ser humano NÃO seja hipócrita é algo impossível, mas tudo tem seu limite.
Não venha com esse papo de Jesus; de dar a outra face. Acreditando que com isso você vai encontrar felicidade, a vida não é filme, muito menos um romance, pra achar que tudo vai ficar bem com um 'me desculpe'.
Quis dizer sorrir dela e não para ela. E homens espancam mulheres porque sua mão tem mais força que suas palavras, sua paciência, e o fazem muito bem porque tem a força bruta. Se não fosse as mulheres e sua força de resistência para aturar homem bruto, machista, nossa geração estava reduzida a milhões e não bilhões. Para encerrar meu ponto de vista, sem fantasiar o texto, vou me limitar e dizer que ele está certo na sua atitude com ela. Mulheres são sim idiotas e cretinas quando também querem. Estão mal acostumadas a ser aceitas e merecem o desprezo quando agem como tal. Só acredito que sentir algo por ela e com ira, ignorar isso, pode ser um erro que só fará mal a ele. Ainda penso que dizer a ela o quanto é inútil ter esse sentimento e sorrir como se estivesse jogando na cara dela uma verdade, fará ela se arrepender muito mais do que deixá-la ir embora com a dúvida. Mulher é tão convencida que acha que a dúvida é um sim. Enquanto eu sei que para um homem é de fato apenas uma dúvida.
ExcluirAh, fala sério... a Melissa simplesmente descarta todos os sentimentos do cara sem nem pensar duas vezes, o abandona por anos. Depois quer que ele ele simplesmente esqueça por tudo isso, quer que ele esqueça todo o sofrimento vivido por anos, e voltar com ela por uma noite, como se nada tivesse acontecido ? Sinceramente, nesse caso é melhor ser um infeliz do quê ser um cachorro que volta abanando o rabo assim que solicitado.
ResponderExcluirFelipe
é assim que um homem de verdade faz, ele é logico linear, pois sabe que existe o que ele quer fazer e o q ele tem que fazer, e assim como eu fazria esse cara da história fez, fez o que tinha que ser feito.... o que me faltava era aceitar novamente uma vagabunda que acabou com o sonhos dele e depois volta para ferrar a vida dele novamente, pois sim, qual a garantia q ele tem de que seria diferente? Somos homens, somos orgulhosos(somos senhores de nós) e temos muito orgulho de sermos o que e como somos... ai daquele que negar a sua natureza, ha de se tornar algo sem denominação ou indeterminado.... Somos o primeiro sexo, somos o motor do mundo, e isto vcs nunca poderam mudar, pois mesmo que mudem alguns, em suas mentes saberão que sempre seremos...
ResponderExcluirPois é,mas a pessoa(o Homem),so sabera se todo esse orgulho valeu a pena,no fim da vida,isso serve pra vc "Anonimo",hj diz isso mas quando estiver nos seus ultimos dias de vida,um filme de sua vida ira passar por sua cabeça,e vc vai se arrenpender,por nao ter amado de verdade,e nem ser amado de verdade
Excluirkkkkkkk...arrepender-se, do que me adiantaria me arrepender no final de minha vida? de arrependidos o inferno esta cheio... e se o homem aprender a não condicionar a sua felicidade a ter alguem ele sera independente e achara outras formas de felicidade... estupido é o ser que coloca a sua felicidade na mão de outra pessoa...
ExcluirSer amado de verdade é ser largado pela pessoa que você ama? Na boa, vai procurar um psicólogo...
Excluirse amasse não teria largado, e não sou tão carente para aceitar de volta alguem em que não posso confiar, se vc é carente (e incapaz de arrumar outra pessoa) a esse ponto, vai e faz, mas não vem com contos de fadas...
Excluiracho q tu é que precisa de um psicologo, para curar essa sua carencia, incapacidade de continuar e mudar de vida... e tenho certeza que tu é uma mulher, para viver uma merda de vida dessas e ficar sonhando com uma bosta de um conto de fadas desse...kkkkkkkkkkkkkk
ExcluirO erro dele foi condicionar a felicidade dele á alguém. É infeliz porque é besta, tudo que precisa é parar de viver no passado e aceitar o amor da esposa.
ResponderExcluirMuito bom!! Gostei muito.
ResponderExcluirEu acredito que ele teve a atitude correta. Se ela não teve amor suficiente de largar tudo que tinha por ele, então porque ele deveria fazer o mesmo?
"Logo se recuperaria do acontecido, seu coração se adaptava facilmente a qualquer um"
ResponderExcluirAtutude correta do rapaz frente a conveniencia da garota....
Esse só precisaria "remodelar" sua atitude, pois não se encontra felicidade em ninguem sem antes ser feliz consigo mesmo...