Tudo estava estranho.
Seu voo estava atrasado.
Podia dizer que não estava mais chorando, pois as lágrimas não tinham mais forças para cair. Tudo que lhe restava era uma visão embaçada, como se o choro já não formasse nada além de uma neblina.
Ele não viria.
Não viria, pois sabia que não era culpado, e se ele não tinha culpa não tinha necessidade de pedir perdão. Era direito dele, o de sentar-se em sua poltrona de orgulho e aguardar pelo chá de perdão que ela deveria oferecer.
O tempo não parecia passar enquanto ela se encontrava praticamente presa naquele aeroporto. E isso era um castigo, pois cada segundo, cada minuto e cada milésimo de tempo presa naquela cidade fazia com que suas lembranças permanecessem cada vez mais intensas.
Não acreditava que ao sair dali as memórias sumiriam instantaneamente, mas sabia que ficaria mais fácil de deixar tudo ir.
Olhava em seu relógio como se adiantasse algo.
Noite passada uma preocupação havia acometido a ambos. Eles já estavam preocupados em relação a esse momento havia uns dias, e saber o que ele soube ontem o deixou apenas mais preocupado.
- Lembra de quantas vezes eu te disse que estaria aqui pra tudo? Então, queria que você reavaliasse a veracidade dessas palavras e acreditasse fielmente nelas. Quero que você saiba que eu realmente estou aqui pra você, e quero também você tire da sua cabeça esse pensamento idiota que te impede de demonstrar o que tá se passando na sua cabeça e no seu coração.
- Não quero mais falar sobre isso. Tenho que ir e, por favor, não quero que você venha comigo.
- Tá mal? Vai piorar. Mas depois vai melhorar. Eu tô aqui, acredita. Confia em mim.
- Deixa pra lá. Não vem atrás de mim.
Não era tão fácil assim, como se não bastasse sua saúde, a beleza dela também estava indo embora. E era tão perturbador imaginar o modo com o qual os olhos dele iriam vê-la.
O câncer poderia levar sua sua saúde e sua vida, mas ela não admitia que essa doença levasse o amor que ele tinha por ela, e ela tinha certeza de que se o deixasse enquanto tinha a beleza que o conquistou, ele permaneceria amando ela. E mesmo que fazendo assim ela não o tivesse mais presente nos seus últimos dias ela queria morrer tendo todo o amor que ganhou dele ao invés de qualquer pena.
Ela esperava, mas não esperava somente por seu voo. Esperava ele, queria que ele viesse e que não tivesse levado a sério uma palavra sequer de tudo que ela falou. Ela fora estúpida, fútil, boba. Mas era orgulhosa demais pra voltar atrás e retirar o que disse.
Ela queria que seu homem corresse e a impedisse de entrar no avião. Ou que entrasse com ela e a acompanhasse para onde quer que ela fosse.
Recostou-se no ombro de sua mãe, sua única companhia. O celular agarrado em sua mão, na esperança de uma mensagem ou uma ligação.
Depois de tudo que ela disse, depois de praticamente abandonar seu amor e abdicar de sua presença, ele não devia continuar sentindo o que sentia. Mas um amor moldado em tantos anos não se apagaria fácil por conta de palavras ditas em poucos minutos.
Ela viajaria naquela tarde, dentro de algumas horas. Ele tinha que fazer algo. Teria ligado mais cedo, se a confusão na sua cabeça não o tivesse feio esquecer seu celular em casa.
Após um dia de trabalho perdido, uma vez que sua mente não se encontrava no devido lugar, ele fez o que achou que deveria fazer.
Subiu em sua motocicleta e partiu, rumo a ela. O voo dela partiria em menos de meia hora e até o aeroporto não demoraria muito. Mas demoraria mais do que o necessário. Ele precisou correr mais do que devia.
O sol já havia partido há tempos. Sem sinal de seu voo, sem sinal de seu homem. Não tinha mais unhas para roer, também não tinha mais fôlego para perder. Seu voo então chegou, e ela desistiu de esperar por ele. Seguiu seu rumo, deu seus passos em direção á vida que escolhera na noite anterior.
No caminho até o avião ela jogou o celular em uma lixeira qualquer.
Ela sentou-se em sua poltrona e encostou a cabeça na janela.
Ouviu um grito e prendeu o choro.
Uma buzina gritou, seguida de uma pancada e um tombo violento.
Nunca uma noite nunca fora tão escura. Nunca seus pensamentos foram tão vivos.
Tempo? Ele pensara que ainda teria muito pela frente. Talvez se ainda tivesse sorte, ou se os paramédicos lhe alcançassem a tempo. Tempo que também lhe faltou para pensar em algo no instante em que sentiu seu corpo bater ao chão.
Tentou levantar, mas sequer conseguiu se mover. Ele queria gritar. Mas sua voz não emitia som algum. O ar sumiu do seu alcance.
Tudo aconteceu tão rápido. E todos que o amavam, como ficariam? E todos que ele amava?
Seus olhos não reconheciam aquelas cores escuras e embaçadas.
Ele só pensava em chegar até a ela, falar tudo pra ela. Que nunca, nunca a abandonaria, nunca aceitaria deixá-la.
Mas seu coração estava lento. Ele a imaginou ao fechar seus olhos pesados.
Seu voo estava atrasado.
Podia dizer que não estava mais chorando, pois as lágrimas não tinham mais forças para cair. Tudo que lhe restava era uma visão embaçada, como se o choro já não formasse nada além de uma neblina.
Ele não viria.
Não viria, pois sabia que não era culpado, e se ele não tinha culpa não tinha necessidade de pedir perdão. Era direito dele, o de sentar-se em sua poltrona de orgulho e aguardar pelo chá de perdão que ela deveria oferecer.
O tempo não parecia passar enquanto ela se encontrava praticamente presa naquele aeroporto. E isso era um castigo, pois cada segundo, cada minuto e cada milésimo de tempo presa naquela cidade fazia com que suas lembranças permanecessem cada vez mais intensas.
Não acreditava que ao sair dali as memórias sumiriam instantaneamente, mas sabia que ficaria mais fácil de deixar tudo ir.
Olhava em seu relógio como se adiantasse algo.
Noite passada uma preocupação havia acometido a ambos. Eles já estavam preocupados em relação a esse momento havia uns dias, e saber o que ele soube ontem o deixou apenas mais preocupado.
- Lembra de quantas vezes eu te disse que estaria aqui pra tudo? Então, queria que você reavaliasse a veracidade dessas palavras e acreditasse fielmente nelas. Quero que você saiba que eu realmente estou aqui pra você, e quero também você tire da sua cabeça esse pensamento idiota que te impede de demonstrar o que tá se passando na sua cabeça e no seu coração.
- Não quero mais falar sobre isso. Tenho que ir e, por favor, não quero que você venha comigo.
- Tá mal? Vai piorar. Mas depois vai melhorar. Eu tô aqui, acredita. Confia em mim.
- Deixa pra lá. Não vem atrás de mim.
Não era tão fácil assim, como se não bastasse sua saúde, a beleza dela também estava indo embora. E era tão perturbador imaginar o modo com o qual os olhos dele iriam vê-la.
O câncer poderia levar sua sua saúde e sua vida, mas ela não admitia que essa doença levasse o amor que ele tinha por ela, e ela tinha certeza de que se o deixasse enquanto tinha a beleza que o conquistou, ele permaneceria amando ela. E mesmo que fazendo assim ela não o tivesse mais presente nos seus últimos dias ela queria morrer tendo todo o amor que ganhou dele ao invés de qualquer pena.
Ela esperava, mas não esperava somente por seu voo. Esperava ele, queria que ele viesse e que não tivesse levado a sério uma palavra sequer de tudo que ela falou. Ela fora estúpida, fútil, boba. Mas era orgulhosa demais pra voltar atrás e retirar o que disse.
Ela queria que seu homem corresse e a impedisse de entrar no avião. Ou que entrasse com ela e a acompanhasse para onde quer que ela fosse.
Recostou-se no ombro de sua mãe, sua única companhia. O celular agarrado em sua mão, na esperança de uma mensagem ou uma ligação.
Depois de tudo que ela disse, depois de praticamente abandonar seu amor e abdicar de sua presença, ele não devia continuar sentindo o que sentia. Mas um amor moldado em tantos anos não se apagaria fácil por conta de palavras ditas em poucos minutos.
Ela viajaria naquela tarde, dentro de algumas horas. Ele tinha que fazer algo. Teria ligado mais cedo, se a confusão na sua cabeça não o tivesse feio esquecer seu celular em casa.
Após um dia de trabalho perdido, uma vez que sua mente não se encontrava no devido lugar, ele fez o que achou que deveria fazer.
Subiu em sua motocicleta e partiu, rumo a ela. O voo dela partiria em menos de meia hora e até o aeroporto não demoraria muito. Mas demoraria mais do que o necessário. Ele precisou correr mais do que devia.
O sol já havia partido há tempos. Sem sinal de seu voo, sem sinal de seu homem. Não tinha mais unhas para roer, também não tinha mais fôlego para perder. Seu voo então chegou, e ela desistiu de esperar por ele. Seguiu seu rumo, deu seus passos em direção á vida que escolhera na noite anterior.
No caminho até o avião ela jogou o celular em uma lixeira qualquer.
Ela sentou-se em sua poltrona e encostou a cabeça na janela.
Ouviu um grito e prendeu o choro.
Uma buzina gritou, seguida de uma pancada e um tombo violento.
Nunca uma noite nunca fora tão escura. Nunca seus pensamentos foram tão vivos.
Tempo? Ele pensara que ainda teria muito pela frente. Talvez se ainda tivesse sorte, ou se os paramédicos lhe alcançassem a tempo. Tempo que também lhe faltou para pensar em algo no instante em que sentiu seu corpo bater ao chão.
Tentou levantar, mas sequer conseguiu se mover. Ele queria gritar. Mas sua voz não emitia som algum. O ar sumiu do seu alcance.
Tudo aconteceu tão rápido. E todos que o amavam, como ficariam? E todos que ele amava?
Seus olhos não reconheciam aquelas cores escuras e embaçadas.
Ele só pensava em chegar até a ela, falar tudo pra ela. Que nunca, nunca a abandonaria, nunca aceitaria deixá-la.
Mas seu coração estava lento. Ele a imaginou ao fechar seus olhos pesados.
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