O vôo havia atrasado algumas horas. Rodolf ficou aliviado ao entrar
no avião naquela noite. Saudades do seu filho. Saudades de sua esposa.
Saudades de todos aqueles que ele chamava de família.
Durante
longos oito meses ele se abrigara na apaixonante França. Não por
diversão nem algo semelhante, mas por trabalho. Embora isso não
impedisse de ter suas horas livres de diversão.
Foi por nesse curto período de folga que ele encontrou Valentino, o Italiano que tornou-se algo na vida dele. Atrevo-me a dizer que sua única companhia por muito tempo.
O vôo seguia rumo a Argentina, com escalas no Brasil, entre elas uma em São Paulo, onde Rodolf ficaria. Valentino, que estava na poltrona ao lado, queria visitar parentes na Argentina e aproveitou a viagem de Rodolf para tê-lo como companhia.
Algo, talvez intrigante, aconteceu com os dois. Uma coisa que mexeu muito com a cabeça semi-adulta de Rodolf, que vivia seus vinte e poucos anos de vida. Algo que se dito em voz alta apagaria a expressão séria e doce vivia estampada em seu rosto constantemente. Ele não tinha dúvidas do que queria, embora tivesse momentos de dúvidas em que deixava a loucura o controlar. Mas logo ele trazia seus pés de volta ao chão, e sua cabeça de volta a realidade.
Valentino passara a poucos meses dos trinta anos. Embora sua expressão quase sempre fosse a de um homem sério, talvez até rude, por dentro seu coração batia quase sempre doloridamente. A respiração violenta, a aparência forte e confiante, era unicamente um escudo que ele utilizava para proteger-se do mundo. Ou melhor, das pessoas do mundo.
Entre os dois havia algo mais forte do que amizade, ambos chegaram a pensar que fosse amor, mas na verdade o amor partia apenas de uma das partes.
Rodolf tentava relaxar, mas não conseguia. Praticamente a cada cinco minutos ele tirava seu relógio do seu bolso e contava quanto tempo tinha passado, em seguida estimava quanto tempo lhe faltava para chegar em casa.
Estava ansioso, queria sorrir ao chegar, abraçar sua esposa Melissa e colocar no colo seu filho Max, que em alguns dias faria cinco anos de idade. Por outro lado preocupava-se com o fato de sua ansiedade e felicidade ser a preocupação e tristeza de Valentino, que quase deitado na poltrona ao seu lado tentava disfarçar qualquer sentimento que se assemelhe a perda quando perguntou:
- Tem certeza de que é isso o que você quer fazer?
- Eu tenho que fazer isso - respondeu ele.
Rodolf não tinha dúvidas, ele tinha decidido o que pretendia fazer de sua vida. E o que queria também.
- Não é questão de ter que fazer - falou Valentino. - A questão é se você quer fazer.
Isso fez com que Rodolf passasse por uma violenta turbulência interna naquele instante. Ele não queria ter que responder. Não por ele, mas por seu amigo.
- Se você quiser que eu fale a verdade mesmo, preciso que dizer que é por que eu quero fazer.
- Então minta pra mim - implorou Valentino. - Minta, tentarei não me importar.
O pedido lhe incomodava.
- Não há razão pra isso - ele tentou parecer calmo, mas o assunto já o irritava. - Seria injustiça ficar te enganando, ou me enganado.
- De certa forma leve isso como um pedido.
- Não, tudo que tínhamos ficou no hotel em Paris.
- Podemos voltar para buscar.
- Compreenda que eu não quero.
Valentino recolheu-se aos seus pensamentos.
Rodolf levou as mãos ao rosto com uma sensação que até então não sentira antes. Ou sentira em uma proporção menor.
- Devo me desculpar pela dor que injeto nas tuas veias, mas compreenda que não é exatamente isso que eu quero - falou Rodolf.
- Fica tranquilo, já passei por isso muitas vezes antes. É comum eu ser um erro na vida dos outros - Valentino falou abalado.
- Não se veja como um erro na minha vida. E se for assim que você se vê, saiba que você foi o erro mais sincero que cometi.
Valentino deu um breve sorriso.
- Não tente me fazer sorrir agora. Em a alguns minutos você vai me dar motivo pra chorar.
- Não se obrigue a sorrir. Saiba que teu gosto de whisky foi o que me deu ânimo nesses últimos meses. E o fato de que eu não queira mais sentí-lo, não muda o fato de que gostei.
- Não tenho mais que me importar com isso.
- Se facilitar pra você mantenha guardado apenas meus defeitos, talvez assim me odeie com mais facilidade.
- Não fala mais nada. - Valentino se deu por vencido. - Eu não posso mudar sua mente e não faz sentido eu te odiar.
- Só não quero ser razão do teu sofrimento.
- Não se preocupe, não vai ser - falou sem expressão.
Ambos permaneceram em silêncio.
O vôo ficou mais entediante do que já era, os dois não trocaram mais palavras e nem olhares. Valentino dormiu, ou fingiu dormir. O relógio já não saía da mão de Rodolf, ele queria que o tempo corresse, queria sair daquele momento.
Demorou muito, mas o avião pousou em seu destino.
Rodolf levantou-se rapidamente e preparou-se para sair. Antes de se afastar olhou para o cara que fez parte de sua vida nos últimos meses. Não poderia deixar de se despedir dele.
Tocou a mão de Valentino e disse:
- Tchau. Até um dia, quem sabe.
Valentino piscou tentando abrir os olhos. Havia dormido mesmo, demorou alguns segundos para que ele conseguisse falar:
- Assim? Uma despedida bastante seca pra nós - questionou.
Rodolf deu um sorriso que mais tarde machucaria nas lembranças de Valentino, que fechou os olhos novamente e disse:
- Então eu te digo adeus.
Rodolf suspirou fundo e respondeu:
- De qualquer maneira eu vou lembrar de você.
Ainda de olhos fechados Valentino disse com a voz dolorida.
- Eu vou fazer o possível para te esquecer.
Rodolf engoliu algo angustiado quando disse suas últimas palavras para ele:
- De qualquer maneira, obrigado por ter deixado meu coração quente no frio de Paris.
Foi por nesse curto período de folga que ele encontrou Valentino, o Italiano que tornou-se algo na vida dele. Atrevo-me a dizer que sua única companhia por muito tempo.
O vôo seguia rumo a Argentina, com escalas no Brasil, entre elas uma em São Paulo, onde Rodolf ficaria. Valentino, que estava na poltrona ao lado, queria visitar parentes na Argentina e aproveitou a viagem de Rodolf para tê-lo como companhia.
Algo, talvez intrigante, aconteceu com os dois. Uma coisa que mexeu muito com a cabeça semi-adulta de Rodolf, que vivia seus vinte e poucos anos de vida. Algo que se dito em voz alta apagaria a expressão séria e doce vivia estampada em seu rosto constantemente. Ele não tinha dúvidas do que queria, embora tivesse momentos de dúvidas em que deixava a loucura o controlar. Mas logo ele trazia seus pés de volta ao chão, e sua cabeça de volta a realidade.
Valentino passara a poucos meses dos trinta anos. Embora sua expressão quase sempre fosse a de um homem sério, talvez até rude, por dentro seu coração batia quase sempre doloridamente. A respiração violenta, a aparência forte e confiante, era unicamente um escudo que ele utilizava para proteger-se do mundo. Ou melhor, das pessoas do mundo.
Entre os dois havia algo mais forte do que amizade, ambos chegaram a pensar que fosse amor, mas na verdade o amor partia apenas de uma das partes.
Rodolf tentava relaxar, mas não conseguia. Praticamente a cada cinco minutos ele tirava seu relógio do seu bolso e contava quanto tempo tinha passado, em seguida estimava quanto tempo lhe faltava para chegar em casa.
Estava ansioso, queria sorrir ao chegar, abraçar sua esposa Melissa e colocar no colo seu filho Max, que em alguns dias faria cinco anos de idade. Por outro lado preocupava-se com o fato de sua ansiedade e felicidade ser a preocupação e tristeza de Valentino, que quase deitado na poltrona ao seu lado tentava disfarçar qualquer sentimento que se assemelhe a perda quando perguntou:
- Tem certeza de que é isso o que você quer fazer?
- Eu tenho que fazer isso - respondeu ele.
Rodolf não tinha dúvidas, ele tinha decidido o que pretendia fazer de sua vida. E o que queria também.
- Não é questão de ter que fazer - falou Valentino. - A questão é se você quer fazer.
Isso fez com que Rodolf passasse por uma violenta turbulência interna naquele instante. Ele não queria ter que responder. Não por ele, mas por seu amigo.
- Se você quiser que eu fale a verdade mesmo, preciso que dizer que é por que eu quero fazer.
- Então minta pra mim - implorou Valentino. - Minta, tentarei não me importar.
O pedido lhe incomodava.
- Não há razão pra isso - ele tentou parecer calmo, mas o assunto já o irritava. - Seria injustiça ficar te enganando, ou me enganado.
- De certa forma leve isso como um pedido.
- Não, tudo que tínhamos ficou no hotel em Paris.
- Podemos voltar para buscar.
- Compreenda que eu não quero.
Valentino recolheu-se aos seus pensamentos.
Rodolf levou as mãos ao rosto com uma sensação que até então não sentira antes. Ou sentira em uma proporção menor.
- Devo me desculpar pela dor que injeto nas tuas veias, mas compreenda que não é exatamente isso que eu quero - falou Rodolf.
- Fica tranquilo, já passei por isso muitas vezes antes. É comum eu ser um erro na vida dos outros - Valentino falou abalado.
- Não se veja como um erro na minha vida. E se for assim que você se vê, saiba que você foi o erro mais sincero que cometi.
Valentino deu um breve sorriso.
- Não tente me fazer sorrir agora. Em a alguns minutos você vai me dar motivo pra chorar.
- Não se obrigue a sorrir. Saiba que teu gosto de whisky foi o que me deu ânimo nesses últimos meses. E o fato de que eu não queira mais sentí-lo, não muda o fato de que gostei.
- Não tenho mais que me importar com isso.
- Se facilitar pra você mantenha guardado apenas meus defeitos, talvez assim me odeie com mais facilidade.
- Não fala mais nada. - Valentino se deu por vencido. - Eu não posso mudar sua mente e não faz sentido eu te odiar.
- Só não quero ser razão do teu sofrimento.
- Não se preocupe, não vai ser - falou sem expressão.
Ambos permaneceram em silêncio.
O vôo ficou mais entediante do que já era, os dois não trocaram mais palavras e nem olhares. Valentino dormiu, ou fingiu dormir. O relógio já não saía da mão de Rodolf, ele queria que o tempo corresse, queria sair daquele momento.
Demorou muito, mas o avião pousou em seu destino.
Rodolf levantou-se rapidamente e preparou-se para sair. Antes de se afastar olhou para o cara que fez parte de sua vida nos últimos meses. Não poderia deixar de se despedir dele.
Tocou a mão de Valentino e disse:
- Tchau. Até um dia, quem sabe.
Valentino piscou tentando abrir os olhos. Havia dormido mesmo, demorou alguns segundos para que ele conseguisse falar:
- Assim? Uma despedida bastante seca pra nós - questionou.
Rodolf deu um sorriso que mais tarde machucaria nas lembranças de Valentino, que fechou os olhos novamente e disse:
- Então eu te digo adeus.
Rodolf suspirou fundo e respondeu:
- De qualquer maneira eu vou lembrar de você.
Ainda de olhos fechados Valentino disse com a voz dolorida.
- Eu vou fazer o possível para te esquecer.
Rodolf engoliu algo angustiado quando disse suas últimas palavras para ele:
- De qualquer maneira, obrigado por ter deixado meu coração quente no frio de Paris.
Postar um comentário