Havia esquecido a tamanha facilidade com a qual conseguia se apaixonar. Não falo de paixõesinhas simples, mas paixões avassaladoras, daquelas que exige e prevê um amor constante e um casamento imaginário.
Era culpa daquele sorriso matador. No mínimo.
Apenas dois meses foram o suficiente para que ele tomasse conta da vida de Melissa. Não sabia qual era a causa de tudo, mas aconteceu tão despretensiosamente que quando ela percebeu já era tarde o suficiente para impedir qualquer sofrimento.
Porque esse era o maior problema das fáceis paixões frequentes: nunca a levava a canto nenhum além do sofrimento.
Ela tinha seus dezesseis anos. Ele havia sido seu professor e já passava dos trinta.
Ela havia notado que após o fim das aulas ele sentava-se em uma sala sozinho. Certo dia decidiu fazer-lhe companhia, e desde então após as aulas sentavam juntos e então conversavam por um longo tempo. Na verdade ele falava enquanto ela ouvia tudo atenciosamente, como uma criança na frente da televisão.
Trocaram e-mail e telefone.
Ele tinha uma inteligência fascinante.
A voz dele era tão macia como o modo com o qual movia sua boca.
Aquela boca que poderia estar movimentando-se colada a sua.
Os dias passavam e ela insistia em vê-lo. Aparecia sem motivo e sem desculpa na porta da sala pedindo permissão para entrar, apenas para ouvir a voz dele e abraçá-lo. A algema dourada no dedo anelar da mão esquerda dele era um detalhe bobo e insignificante.
Ele era homem, e segundo ela, homem não se importa com esse tipo de coisa.
Tudo isso não passava de uma perseguição. Amável, ainda assim perseguição.
Na cabeça dele eram apenas visitas, na dela era uma promessa de fidelidade.
Tão boba a moça.
Naquela tarde em que o sol fervia os miolos dos pássaros ela estava no escritório dele. Aproveitando-se de um dos instintos de fraqueza masculina, tentou apelar para um ponto que muitas mulheres apelam: a sensualidade. Porém, ela tinha a sensualidade de uma porta, e percebendo isso ele deu uma gargalhada tão fofa que fez tudo valer a pena.
O coração dela apertou.
Pensou que ele fosse menosprezá-la ou ofendê-la, mas tudo que ele pediu foi que se cobrisse. Aproximou-se dela e a beijou com um carinho tão especial que tudo, tudo que ela sonhara nos últimos dias pareceram ter uma possibilidade de se tornar realidade.
Ele beijava com ternura. Com suavidade.
Que tipo de homem era ele?
Do tipo que traia com carinho?
Não importava, ela estava bem demais pra pensar nisso.
Ela voltou pra casa com felicidade. Como se tivesse um sonho realizado.
Agora tudo fazia sentido, todos os elogios, os carinhos e cuidados, todo o tempo que ele desperdiçava com ela. Tudo. Absolutamente tudo girava em torno do amor que ela sempre soube que ele guardava para ela.
Ele a amava. Ele a amava.
Seus neurônios cantavam como uma ópera, como um coral.
Ele a amava e seriam felizes daquele momento em diante.
O dia seguinte amanheceu nublado, a felicidade anunciava sua partida.
Viu no seu celular uma mensagem, e leu esperando o pior.
"Desculpe qualquer coisa. Acho que você se enganou e me enganou também. Não sinto nada por ti, e provavelmente nunca vou sentir. Talvez o beijo tenha sido por impulso. Talvez o cansaço de todo o meu dia tenha me permitido fazer o que fiz sem que eu tomasse conta. Você não devia sentir nada por mim. Manter uma relação contigo faria de mim um pedófilo ou algo do tipo. Fora que não sinto nada. Não te amo. Não te gosto. Só te quero bem, como quero bem a muitas pessoas. Tem mais cuidado com teus pensamentos.
Não se deixa levar por suposições."
Ela cogitou chorar. Mas não, resistiu firme e forte. Uma guerreira com armadura no coração.
E acabou da maneira que ela sabia que iria acabar. Aquele foi só mais um dos homens que a magoaram, e não seria o ultimo. Mas não doeu. Na verdade doeu, mas a dor foi suportável devido ao costume.
Seu coração ia curar-se, e logo se apaixonaria novamente.
Viu no seu celular uma mensagem, e leu esperando o pior.
"Desculpe qualquer coisa. Acho que você se enganou e me enganou também. Não sinto nada por ti, e provavelmente nunca vou sentir. Talvez o beijo tenha sido por impulso. Talvez o cansaço de todo o meu dia tenha me permitido fazer o que fiz sem que eu tomasse conta. Você não devia sentir nada por mim. Manter uma relação contigo faria de mim um pedófilo ou algo do tipo. Fora que não sinto nada. Não te amo. Não te gosto. Só te quero bem, como quero bem a muitas pessoas. Tem mais cuidado com teus pensamentos.
Não se deixa levar por suposições."
Ela cogitou chorar. Mas não, resistiu firme e forte. Uma guerreira com armadura no coração.
E acabou da maneira que ela sabia que iria acabar. Aquele foi só mais um dos homens que a magoaram, e não seria o ultimo. Mas não doeu. Na verdade doeu, mas a dor foi suportável devido ao costume.
Seu coração ia curar-se, e logo se apaixonaria novamente.
entendo o que a personagem sente nesta crônica.
ResponderExcluirMinha explicação está nos comentários do post sobre amores platônicos.
Mas não acho que a superação da dor seja por "costume" ou "ferimento calejado".
Pelo menos para mim, paixão é como fogo em palha: Grande, intenso, avassalador, assustador. Mas depois de pouco tempo, ele se apaga e o que sobra são apenas as cinzas, a fumaça e, de vez em quando, um cheiro ruim.