Cérebro. Para muitos, o universo zumbi se limita ao órgão mencionado no início deste artigo. No entanto, é muito mais do que isso: trata-se de fãs espalhados pelo mundo inteiro que por muitos anos viram seu objeto de “adoração” ficar relegado ao segundo plano, até o início dos anos 2000. A partir daí, surgem diferentes publicações e, o mais interessante, novas incursões cinematográficas e séries de TV. Essa nova febre pode ser inclusive conferida no documentário Zumbimania, feita pela HBO, há dois anos. Nele, há explicações sobre o que é um zumbi, como ele ganharam as telas e hoje são amplamente discutidos e comentados em diferentes níveis, inclusive o universitário. Porém, antes de abordar o tema, é preciso fazer uma breve explicação sobre o termo.
Basicamente, há dois tipos de zumbis e ambos já foram temas de filmes: o primeiro remete a rituais de magia haitianos, feitos também em alguns países da África, nos quais as pessoas que são submetidas a tais magias ficam em estado catatônico, obedecendo apenas àquele que executou o ritual e sem esboçar qualquer vontade própria. Já o segundo diz respeito aos zumbis que tiveram em George A. Romero uma figura quase paterna, ou seja, aqueles conhecidos como morto-vivos, cuja única vontade é de se alimentar de carne humana. Os artigos desta e das próximas semanas vão ficar este segundo tipo, tão comum atualmente. E, para início de conversa, porque não falar do já mencionado pai dos mortos-vivos: George A. Romero?
Quando ainda estudante, George fez seu primeiro filme independente relacionado ao tema: A noite dos mortos-vivos (1968). A película mostrava mortos voltando à “vida” e se alimentando dos vivos, sem qualquer momento mencionar porque aquilo estava acontecendo ou como tudo tinha começado. A história mostrava apenas cadáveres voltando à uma pseudovida, sem qualquer objetivo além de alimentar-se de humanos. Mas é justamente aí que reside a graça de Romero: ele não quer explicar o porquê das coisas; ele quer que pensemos sobre quem de fato são os mortos-vivos: eles ou nós?
Todos os seus filmes têm cunho crítico com relação às atividades sociopolíticas vigentes, algo que passa despercebido para a maior parte das pessoas. É obvio que fica um pouco difícil pensar que há todo um enredo por trás de tantos corpos dilacerados e sangue. No entanto, ele está lá, velado, e quem tirar este véu e se desprender de um mínimo de preconceito a este tipo de filme pode ter uma grata surpresa.
Depois de A Noite dos Mortos-Vivos, Romero insistiu no tema em mais alguns filmes, dando sequência à noite horripilante: Madrugada dos mortos (1978), que ganhou uma refilmagem em 2004, e Dia dos Mortos (1985). Com este último, os fãs pensaram que ele havia encerrado seus trabalhos, estabelecendo uma trilogia. Mas estavam redondamente enganados. Em 2005, vinte anos depois de seu último filme do gênero, ele volta com o tema e lança Terra dos Mortos.
Aproveitando que o assunto estava voltando ao gosto do público, principalmente com versões de games e novos filmes do gênero – como, por exemplo, Resident Evil –, Romero reaparece mais ácido do que nunca, e critica de forma bastante direta. Seguindo a lógica de seus filmes anteriores, que contaram como foi a ascensão dos mortos-vivos ao domínio da Terra (noite, madrugada, dia), ele mostra como o mundo ficou anos após o aparecimento dos primeiros zumbis. O filme fez muito sucesso e rendeu ainda mais dois do gênero: Diário dos Mortos (2007) e Ilha dos Mortos (2009). No Brasil, estes dois últimos não foram muito divulgados e ganharam versões exclusivas para DVD's. Romero estabeleceu um novo nível e ganhou muitos adeptos para a causa zumbi, exercendo influência em diferentes nichos culturais.
Nas próximas semanas, veremos um pouco mais sobre quem aderiu à causa zumbi.
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