Soraia: A culpa de ser mulher

“Nenhuma mulher, vestida ou pelada, merece ser estuprada”. Esta é uma campanha de reação a uma pesquisa realizada na semana passada pelo Ipea (Instituto de Política Econômica Aplicada), que revelou que 61,5% dos entrevistados disseram que as mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas e que 58,5% revelaram que se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros. 
Esses números não são tão chocantes quanto outra realidade: mais da metade das 3.800 pessoas entrevistadas eram MULHERES! Isso mesmo: MULHERES! E de onde vem a origem deste tipo de manifestação? De uma sociedade que se diz evoluída, que se diz moderna, mas que continua sendo machista. 
Isso não é culpa somente dos homens. Nós, mulheres, colaboramos e muito para isso. Basta ver os resultados desta pesquisa: a mulher sofre um dos piores tipos de violência (física e psicológica) que alguém pode ser acometido e a culpa não é do homem que não soube se controlar; é da mulher que não soube se comportar. Sentimo-nos culpadas por termos levado o homem a este tipo de situação, no qual ele se viu no direito (ou obrigação) de copular com aquele ser humano que se exibia tão voluptuosamente. Ele tinha que fazer isso e FEZ! Saiu de lá “satisfeito” e nós, mulheres, saímos com a culpa de não termos nos vestido de acordo, de não termos sido mais sérias durante o encontro, de não termos saído mais cedo de casa, de não termos pedido para alguém nos acompanhar até o carro/casa/escola. 
Estamos em 2014 e ainda ouço homens e meninos julgando e rotulando garotas pelo seu comportamento. “Aquela ali rodou na turma toda”, como se isso fosse demérito. Como se ela tivesse sido forçada ou tivesse má índole. Será que eles não param para pensar que não foram todos os meninos que “pegaram” a menina, mas sim a garota que quis experimentar vários parceiros e que não se arrepende disso? 
Ainda batemos palmas para os meninos garanhões, que exibem orgulhosamente por aí sua lista de conquistas e punimos meninas que tentam passar pelo mesmo processo de autoconhecimento. Somos machistas. Infelizmente, isso é uma verdade. É por isso que campanhas como a da jornalista Nana Queiroz devem ser divulgadas. Trata-se de uma iniciativa real frente uma sociedade que vive de aparências. As mulheres não são objetos. Aliás, nenhum ser humano deve ser coisificado. Temos sentimentos e pensamos. É hora de pararmos com esta autoflagelação por sermos mulheres. Exigimos e merecemos respeito. Nada mais além disso.

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