Iatan G: Tu te tornas eternamente irresponsável por aquilo que cativas


Eu não sabia bem o que escrever. Tive milhares de ideias boas na cabeça nos últimos dias, mas não consegui organizar tudo de forma coerente, e é chato deixar os pensamentos expostos em desordem, principalmente quando as pessoas já não nos entendem corretamente nem quando tentamos explicar tudo direitinho.
O pontapé inicial pra concentração chegar foi ler no Twitter de uma amiga uma frase que eu já tinha lido inúmeras vezes: “a vida segue e a gente precisa tirar da nossa vida algumas pessoas que não estão somando, só desgastando”. É clichê, sei disso, mas olha, que puta informação útil! Sem exagero, sério. Como disse, já li variações da frase várias vezes em diversos lugares (e já ouvi da boca de muita gente também) mas quando li hoje pareceu que recebi uma bofetada digna de filme do Rocky Balboa. É engraçado como as palavras nos dão umas porradas certeiras de vez em quando.
Tirar alguém de nossa vida parece simples, mas realmente não é. Pra falar a verdade, quando se trata de gente tudo se complica um pouco mais. Tome por exemplo alguém que já foi muito pra você, daí analise o fato de que você sempre será grato por isso, mas essa pessoa tá mudando contigo e tu não sabe até onde aguenta, nem se precisa mesmo aguentar. Parece confuso? Sim. Mas acho que dá pra entender que o que eu tentei dizer foi que não dá pra deixar pra trás algo tão importante. O motivo? Sei lá! Pode ser pelo fato de que a humanidade é cheia de esperanças. Talvez essa coisa de esperança afete a gente nos momentos mais inesperados (e nos faça esperar o melhor de alguém que parece não melhorar nunca).
Por mais fútil que seja, desejamos ser lembrados em certas ocasiões, especiais ou não. Desejamos a atenção daqueles a quem queremos bem, e isso é supernormal. É reciprocidade gente. Queremos muitas coisas que não temos, e conseguimos sobreviver sem elas. Mas aquilo que oferecemos, desejamos retorno uma hora ou outra. É a cobrança que nosso subconsciente faz daquela lei que dita que tudo que vai, volta.
Algumas vezes validamos em nossas mentes aquela coisa de “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, que Exupéry disse em “O Pequeno Príncipe”, e esperamos realmente que as pessoas sejam responsáveis com a gente. Mas nem todo mundo é assim. O peso real de se tornar responsável pelo bem alheio é muito maior do que conseguimos imaginar.
Pessoas mudam. Constantemente mudam. As ideias e os ideais correm pela cabeça, sem freio, sem direção. É impossível se dedicar integralmente em prol das necessidades de alguém. Uma hora ou outra a gente falha, acontece. Uma hora ou outra as pessoas ficam de mãos atadas, não podem ou cansam de cuidar. Nem sempre é um mal proposital. Mas se machuca sem querer, a tendência é doer do mesmo jeito.
Exupéry, migo, acho que o certo é “tu te tornas eternamente irresponsável por aquilo que cativas”. Não querendo discordar de você, amo seu livro. Acertou em cheio no eternamente, pois aqueles que nos cativam verdadeiramente ficam marcados na memória. Mas o tipo de responsabilidade da qual estamos falando é algo que ninguém deveria estar disposto a assumir, por causa do risco.
Algumas coisas, mesmo nos cansando, são partes importantes da gente. Do que fomos. Do que somos. Daquilo que seremos. Talvez por isso não sejamos capazes de deixar pra trás absolutamente tudo que nos desgasta, mesmo sabendo que devemos. Mesmo que doa, são partes nossas que (pelo tempo de convivência ou pelas lembranças boas que nos trazem) gostamos de ter.

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