Nesta semana a lista do indicados para o Emmy saiu, e entre os favoritos está a série The Morning Show, produzida pela Apple TV, e que estou há séculos para escrever a respeito aqui no blog. Devorei os 10 episódios da primeira temporada em uma única semana, e ao terminar, senti aquela mesma carência afetiva que tive ao terminar a quinta temporada de Peaky Blinders (minha série favorita no momento). O motivo? São tantos que vou até incluí-los em tópicos, porque eles são também ótimas razões para você começar a assisti-la o quanto antes. Mas primeiro, vamos ao trailer:
A série se passa nos bastidores e no estúdio do famoso programa matinal americano The Morning Show, que na trama é apresentado por Mitch Kessler e Alex Levy. A demissão motivada por um abuso sexual de Mitch dá espaço para a novata Bradley Jackson mostrar todo o seu talento atrás de uma bancada, mas o que acontece por trás das câmeras acaba mexendo tanto na vida profissional como pessoal das âncoras.
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Porque você deve assistir The Morning Show
Além de ter um elenco arrasador, The Morning Show traz a tona uma série de discussões muito importantes as quais merecem espaço, não só para conscientizar as pessoas, mas também para dar uma esfregada em nossa cara que já passou da hora da sociedade mudar inúmeros vícios comportamentais que nos acostumamos a normalizar. São eles:
O abuso sexual
A série começa logo de cara com a demissão de Mitch Kessler (interpretado belamente por Steve Carell), âncora do The Morning Show, por conta de uma denúncia de abuso sexual com funcionárias da produção. Por Mitch ser uma figura tão carismática, que passou anos cativando o público e todos a sua volta, as vítimas acabam até mesmo se colocando em dúvida se de fato rolou o abuso ou se elas provocaram tal situação. Diante deste fato que a série se desenrola em vários outros acontecimentos, promovendo uma "reação em cadeia" dentro daquele núcleo.
... E a normalização do abuso sexual
Quem nunca viu alguém dando aquela passada de pano para um abusador na cara dura? Na série você certamente ficará de cara no chão com muitos personagens, inclusive mulheres, normalizando o abuso de Mitch, como se a responsabilidade por aquilo ter acontecido fosse da mulher. Há também aqueles que fingem que nunca viram nada, mesmo que tudo ocorresse bem debaixo do nariz de todos, ou até mesmo, presenciando comentários a respeito do ocorrido e achando graça de tudo. No ambiente de trabalho isso se torna ainda mais sério quando rola barganha de cargo para calar quem foi abusado.
O ambiente tóxico de trabalho
Um ambiente que você tenha que lidar com comentários maldosos sobre coisas que te aconteceram dentro ou fora do trabalho, se sentir ameaçado ou ameaçada a todo tempo, sendo colocado ou colocada a todo minuto à prova não é um dos mais saudáveis, não é? E ainda quando é incluído nesta lista o abuso de seu superior, a coisa se torna ainda mais difícil.
A mulher ter que berrar para ser ouvida sem interrupções
Alex Levy, interpretada por Jennifer Aniston (um dos melhores papéis de sua carreira, sem dúvidas) pode ser facilmente odiada por todos que assistem a série, mas o que se percebe também é a ENORME dificuldade que a personagem tem de se fazer ouvida. Você vai vê-la muitas vezes sendo interrompida, sendo deixada de escanteio, tendo suas opiniões e boas ideias ignoradas, e para tentar impedir tudo isso, ela sempre grita. E grita muito. Devo dizer que me vi MUITAS vezes nesta situação.
... e por conta disso, ser taxada de descontrolada
E por gritar tanto para tentar ser ouvida, Alex é vista como uma louca! Bradley Jackson, interpretada por Reese Whiterspoon (olha, a cada pessoa que cito aqui, tenho vontade de elogiar a interpretação, viu?), pode também ser citada como exemplo disso, já que todas as vezes que seguiu suas convicções, que foi atrás do que acreditava justo, e que falou abertamente sobre as coisas que pensava, foi arduamente julgada. Até quando as mulheres precisarão se provar tanto, brigar tanto, gritar tanto para serem ouvidas, respeitadas e terem o seu merecido espaço?
Um adendo: por conta de tanta energia depositada nessa missão, a mulher ainda acaba sendo julgada em casa por não pensar tanto na família, mas só no trabalho (mas para o homem tá tudo bem ser um pai ausente. Faz parte do jogo).
A inferiorização da mulher no ambiente de trabalho
É justo alguém ter medo de se relacionar com outra pessoa por querer evitar que outras acreditem que é mero interesse para subir de cargo? Ou achar justamente que a mulher foi promovida não porque é competente, mas porque "deu" para alguém importante lá dentro? E quando uma mulher tem uma ideia ótima no trabalho, e quando sugere o que pensou, é rapidamente descartada, mas aí um cara dá a mesma ideia depois e leva todos os méritos por isso? Isso não só acontece na série, mas também O TEMPO TODO na vida real, acredite.
O abuso de poder
Quantas vezes você já escutou um "Ah mas ele pode, ele tem grana" ou "ele é chefe, né?"? Eu já escutei várias vezes! Já fomos tão condicionados a acreditar na premissa "manda quem pode, obedece quem tem juízo", que acreditamos que quem tem dinheiro, quem tem um cargo elevado, pode fazer tudo, sem limitações. Por isso que muita gente tem medo de impor seus limites, de falar não para algo abusivo, de seguir suas questões morais colocadas em jogo... porque quem tem poder acha que pode mandar embora quem contrariá-lo, quem dedurá-lo.
Semanas depois que terminei a série, li um artigo sobre os funcionários do "The Ellen DeGeneres Show" que relataram casos extremamente abusivos nos bastidores do programa, e vi as enormes semelhanças do caso com o The Morning Show. Além dos temas que pontuei, casos verídicos também foram apresentados em diversos episódios, como o movimento Me Too, o tiroteio em Las Vegas e os incêndios recentes na Califórnia. Acredito que por conta disso, você telespectador acaba ficando ainda mais envolvido com a trama, já que tantos fatos reais, tantos comportamentos familiares, te pegam de jeito.
O The Morning Show está disponível na Apple TV, e o streaming oferece uma degustação de uma semana gratuita (a assinatura mensal é R$9,90). A segunda temporada da série já foi confirmada, mas devido as paralisações das gravações por conta do coronavirus, não há data de lançamento prevista.
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