Um dos meus passatempos prediletos é devorar filmes e séries, e ao fim tentar entender qual era a missão de quem produziu e dirigiu aquela obra. Por trás de toda história sempre há uma intensão dos profissionais em transmitir para quem assiste alguma moral ou reflexão (e é por isso que é muito difícil eu dizer que NÃO GOSTO de algo que assisti). Trago neste post uma lista de 4 séries de streamings que trouxeram a Sheila reflexiva à tona nestes últimos 12 meses.
1. As garotas do fundão (Netflix)
Esta minissérie espanhola mostra 5 amigas que fazem uma viagem ao litoral depois que uma delas recebe o diagnóstico de câncer. Até o último episódio, ficamos na dúvida qual delas é a que realmente está doente, e o propósito deste mistério faz muito sentido - a ideia é que você esqueça totalmente que o câncer existe durante a viagem, como elas mesmas fizeram.
A principio pode parecer uma história fútil, sobre desafios bobos propostos pelas amigas em uma viagem de verão, mas no final tudo ali faz sentido - a maneira como elas agem e o porquê cada personagem escolheu determinado desafio mostra que em cada excesso, há uma falta. A compreensão da realidade de cada personagem cai como uma bomba no colo da metade da série para o fim, e muda completamente a visão que uma tem da outra, que até então era camuflada somente pelo lado bom de todas as coisas (e o pré-julgamento delas mesmas).
Outro ponto alto da série é um desafio específico incluído ali no potinho: cada uma delas deverá enfrentar uma situação mal resolvida. Por se tratar de uma viagem, é óbvio que a geografia atrapalharia a missão, mas a direção da série conseguiu criar uma aproximação entre o problema e o problematizador em um contexto simples e poético - para mim, foi o melhor episódio.
Por fim uma viagem que tinha como objetivo esquecer dos problemas, mostra a verdadeira solução para todos eles. A união que existiu entre as amigas desde a infância parecia fragilizada, porém estava mais fortalecida do que nunca. E ainda deixa um ensinamento glorioso que no dia de hoje, tem sido um mantra para mim: "isto também passará".
As garotas do fundão tem 6 episódios de 45 minutos cada um aproximadamente, e que me levou a inúmeras reflexões: não precisamos esperar algo ruim acontecer para aproveitar a vida sempre que possível; nem sempre é o que parece ser; amizade verdadeira é uma das coisas mais preciosas que temos a liberdade de cultivar (e que só rende bons frutos); e principalmente CALMA, isso também passará.
2. The Bear (Star+)
Um chef renomado em NY recebe de herança um restaurante falido do irmão em Chicago, e diante de tamanha bucha a ser assumida, o cara vê que o buraco é muito mais embaixo. Falando assim bem brevemente sobre The Bear, parece que estou te contando sobre uma sitcom simplona, mas a série vai muito além disso.
Com um roteiro impecável e uma trilha sonora de tirar o chapéu, a história é trançada mais por diálogos do que por acontecimentos, e o que mais vai fazer você se admirar é a incrível capacidade de uma pessoa tão talentosa, como o protagonista, manter o tempo todo a humildade e simpatia, mesmo diante de tantos problemas - coisa incomum em muitos profissionais amadores, quem dirá renomados.
Aqui acompanhamos as diversas maneiras de se encarar o luto, e como um acontecimento tão pequeno pode fazer uma pessoa sobrecarregada explodir de vez. Jeremy Allen White manda MUITO bem como este cara que tenta manter tudo funcionando, mesmo que de maneira totalmente desequilibrada, matando um leão por dia e equilibrando um milhão de pratos de uma vez só. A direção de arte também merece um troféu, porque consegue incluir em cada episódio (8 ao total) uma tensão transmitida com lealdade ao espectador, e tem momentos ali que você se sentirá perdendo o fôlego.
Atenção redobrada ao episódio 7, gravado quase que inteiramente em plano-sequência - ali você se sentirá em uma verdadeira panela de pressão esquecida há 10 horas no fogão!
Depois que terminei The Bear, fiquei com um sentimento pesadíssimo de falta - eu queria mais! E ainda bem que a segunda temporada já foi confirmada, mas durante esta primeira, a história despertou em mim sentimentos densos: particularmente falando, a falta que me faz uma parceria dentro da minha família; como é fundamental contar com apoio de quem mais confiamos em momentos absurdamente complicados; se jogar de cabeça nos problemas NÃO CURA LUTO; e por mais talentoso que somos, é a humildade que nos leva para qualquer lugar que desejamos.
3. Ruptura (Apple TV)
Ruptura é uma série bem louca, belíssimamente dirigida, com 9 episódios de uma hora aproximadamente cada um, e embora seja recheada de diálogos e pouca movimentação, é uma história que nos coloca com uma pulga atrás do orelha sobre como conduzimos a nossa rotina.
Um grupo de profissionais leva uma vida incomum à nossa realidade: ao entrarem na empresa, a vida pessoal é completamente apagada da memória de cada um, mantendo somente as lembranças ocorridas ali dentro. O mesmo acontece ao saírem - tudo que ocorre durante o horário comercial é apagado, e as lembranças da vida pessoal é "devolvida". Mas um ex funcionário que conseguiu driblar o sistema interno planta uma sementinha de desconfiança no colega de trabalho mais exemplar do setor, e é aí que as coisas começam a degringolar.
Dirigida por Ben Stiller, a mensagem que eu acredito ter sido transmitida com esta história é bastante direta: até que ponto é saudável abrirmos mão da nossa vida pessoal por um cargo profissional? Qual é a manutenção que fazemos pelo bem da nossa qualidade de vida? Até onde caminhamos por osmose nessa linha, a qual o ponto final é um possível burnout, doença esta que assola a nossa geração atual?
4. Recomeço (Netflix)
Quando comecei a assistir Recomeço na casa da minha mãe, eu jurava que estávamos dando play em mais um romance simples para passar o tempo - ledo engano. Baseado no livro autobiográfico da atriz Tembi Locke (que recentemente integrou o elenco da série Eu Nunca), a minissérie dividida em 8 episódios mostra um relacionamento interracial (e internacional) que parece que o único problema será a adaptação de um italiano nos EUA, mas que um câncer leva todo e qualquer outro problema para a casa do esquecimento. Amy, uma artista recém formada negra e americana, conhece Lino, um talentoso chef siciliano, durante a sua viagem à Itália, e embora sejam pessoas de temperamentos e culturas completamente diferentes, se conectam de maneira instantânea. Depois de alguns anos vivendo juntos nos EUA, Lino se vê em uma dura batalha contra a doença, e paralelamente, tentam colocar os planos de formar uma família feliz em prática.
Aqui há uma bagagem imensa de ensinamentos a serem degustados, e a primeira delas é como o amor nos dá a força que jamais imaginamos ter. E isso não inclui somente o amor de um casal, mas também o amor da família, dos amigos e por nossa profissão. Por ser uma história real, acredito que foi deixado de lado a romantização da doença que costumamos ver em Hollywood, e entra a verdadeira sobrecarga que a pessoa saudável do relacionamento carrega, enquanto o outro luta pela sua própria vida, sem perder as esperanças de um recomeço.
Chorei horrores nos três últimos episódios, e recomendo você assistir em um momento que esteja em paz consigo.
Fica aqui o meu pedido: me conta o que achou das séries caso já tenha assistido, ou venha me contar o que achou se decidir assistir?
Postar um comentário