6. "Tá nervosa? Arranca as calças e pisa em cima"

 


Certa vez, na faculdade, estava eu envolvida em um projeto que me renderia algumas boas notas na grade curricular. Era uma época que tudo era novo para mim: a liberdade, aquela sala de aula com gente adulta, de todas as idades, com sonhos distintos, e que assim como eu, também estavam fazendo as coisas meio que no automático, por se sentirem meio perdidos.

Foi nessa época que conheci a personagem 6.

Ela era de uma unidade diferente da minha, mas nos trombamos nesse projeto/evento, e trabalharíamos juntas durante toda a semana. Depois disso, já lá no final do curso, tivemos uma outra experiência desastrosa que resultou em um rompimento entre nós de algo que mal havia começado. Mas o que parecia o fim de algo raso, se tornou o começo de algo mais profundo. 

Mas claro que isso não aconteceu da noite para o dia. Na verdade, este algo foram anos de cultivo, de cuidado, e de alguns outros pequenos (e rápidos) rompimentos também. Mas o interessante dessa história não é como ela começou, mas o quanto que a personagem 6 me ensinou sobre a vida de uma maneira que eu jamais imaginei que aconteceria.

Primeiro porque muitos desses rompimentos, sejam grandiosos ou pequeninos, tem a ver com grandes explosões: de ideias, de personalidades, e principalmente, explosões de erros tentando acertar. E claro que diante de tudo isso existe uma raiz que explica muitas coisas.

Já que estamos falando de uma personagem 6 com uma enorme bagagem de vida.

A personagem 6 aprendeu muito cedo a ter autodefesa. Mesmo que ela nem se dê conta disso, perder a sua maior capa protetora (que é a figura de uma mãe na vida de uma criança) a fez vivenciar situações as quais nenhuma criança merecia passar. É ridículo e totalmente piegas dizer isso, mas foram essas vivências que fizeram ela, de uma forma até desumana, tomar as rédeas da própria vida muito cedo, e consequentemente a maturidade precoce a fez trilhar novos rumos que para muitos pode parecer solitário, mas na verdade, foram um grito de independência para ela. E foi exatamente este caminho que ela percorreu que fez dela alguém tão forte, mas tão forte, que muitas de suas atitudes são tomadas pelo mais puro instinto de sobrevivência – este que ela adquiriu tão menina. 

Obviamente que por mais força que um ser humano tenha, ele também sente dor. Afinal de contas, estamos falando de uma pessoa, e pessoas são movidas por sentimentos também. E a história da personagem 6 também foi muito marcada pela busca de diferentes sentimentos, mas que se encaixam em um único conceito: o amor.

Pelo jeito durão da personagem 6, ela até pode passar a imagem de quem não está nem aí para o amor, mas acredite, ela ama de um jeito que as vezes nem é saudável para ela mesma, porque ela se preocupa tanto com quem ama e cuida mais do outro do que dela mesma. Ela pensa em fazer caridade até para quem sequer merece o seu bom dia, e por vivermos em um mundo onde a maldade impera, tem até gente que tenta se aproveitar desse lado bom da 6. Mas acontece que o tempo ensinou que a 6 não devia deixar seu instinto de sobrevivência de lado, e com isso, ela sempre provou para essas pessoas maldosas que não é porque ela trilha a sua estrada sozinha que ela é otária.


De otária a 6 não tem nada.


E sabe como esta personagem me inspira dia após dia?
Eu me lembro que todas as vezes que ela tomou rasteira, ela se levantou com suas próprias pernas. Sem bengala alguma.
Me lembro também que todas as vezes que ela ouviu um “não”, ela buscou o seu próprio sim.
Também me recordo que cada degrau que ela subiu foi uma baita de uma escalada, e sempre com seus próprios méritos e de mais ninguém.
Porque vejo que a 6 trilha sua vida sozinha, mas que não vive o estado de solidão, como muitas vezes já me vi viver.
Ela me ensinou, sem fazer força alguma, sem precisar me falar nada, que as pessoas são singulares, e suas singularidades não precisam ser necessariamente iguais as nossas para que possamos ter uma amizade genuína.
E principalmente, porque diante de todas as explosões, ela sempre juntou os cacos na humildade e bom humor. E fez dessa história uma comédia de nós duas.
E mesmo quando o instinto de sobrevivência dela está ligado, ela não deixa de fazer planos, de sonhar. Mesmo quando ela está morrendo de medo de algo, ela não se deixa cegar. Ela dá um jeito para tudo.

A seis é uma baita rabugenta, mas é aquela que a gente não troca por nada neste mundo. Quer dizer, quem é inteligente não a troca por nada neste mundo. E se você ficar nervosa, que arranque as calças e pise em cima.

A 6 finalmente aprendeu a dar para os outros a mesma atenção que os outros dá a ela. Portanto, faça por merecer (e você não se arrependerá, te garanto).

O nome da personagem 6 é Juliana T.

 

 

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