De uns tempos para cá, não sei se é pela idade ou pela minha realidade de hoje, ou um pouco dos dois, tenho refletido muito sobre sentimentos e sensações. Passei muito tempo não me enxergando como a pessoa ansiosa que era, e só depois de sentir inúmeras crises me tirando do prumo que a minha ficha caiu e passei a olhar mais para dentro de mim, principalmente sobre isso.
E com isso veio uma série de lições de casa, readaptações, reestruturações e curas emocionais necessárias para entender que tudo que me sabotava na verdade era fruto da minha cabeça: por que eu sou uma pessoa ansiosa?
Por que estou desesperada achando que não vai dar tempo de fazer tudo o que preciso?
Por que eu tenho uma enorme dificuldade de entender que existem prioridades e outras coisas que podem esperar?
Por que estou com dificuldades de dormir se não posso resolver este problema de madrugada?
É muito difícil o ansioso se dar conta de todas essas questões, porque para ele, tudo é prioritário. Tudo é emergencial. Tudo é para hoje. Mas na medida que corremos contra o tempo para dar conta de coisas que podem muito bem serem planejadas e subdivididas entre os dias, achamos que nos livraremos logo da responsabilidade e ficaremos mais sossegados. Mas é claro que isso não acontece: encontramos outras coisas para nos ocupar logo em seguida.
Depois de encontrar a abordagem psicológica ideal para minha terapia, aprendi que a melhor arma para um ansioso evitar a autosabotagem é uma só: pensar no hoje.
O que posso fazer hoje?
O que dá para resolver agora?
O que depende só de mim e o que depende também de outra pessoa?
As vezes, na corrida contra o tempo, a gente deixa de fazer essas simples perguntas que são FUNDAMENTAIS para que encontremos o nosso equilíbrio. Para que seja possível enxergar com mais clareza as coisas que estão acontecendo. É por isso que terapia é bom para todo mundo, no fim das contas.
Quando comecei a me concentrar mais no hoje, ficou mais claro que a gente passa grande parte do tempo lamentando o passado, ansiando pelo futuro e sequer aproveitando o que está acontecendo no presente. Quantas vezes deixamos de olhar em volta, perceber tudo o que já conquistamos, porque aparentemente temos ainda muito o que conquistar? Ontem ansiamos tanto por esta conquista de agora, por que não a aproveitamos melhor? Isso gera uma sensação de eterna insatisfação, de que nunca nada está bom, que nada nos sacia.
Claro que ainda tenho muito o que aprender sobre olhar para o hoje - sou uma mera iniciante nesta incrível jornada de autoconhecimento e recálculo de rota - mas só de ter dado o primeiro passo, parece que abriu uma porta de um novo mundo para mim. Tenho conseguido me concentrar mais no trabalho, me cobrando menos, desligando mais a cabeça na hora de dormir, pensando em coisas boas quando a negatividade tenta me dominar, e acima de tudo, aprendi a SELECIONAR melhor ao que vou dedicar minha energia e como vou dedicar a minha energia.
A começar pelas partes mais simples: o que não muda em nada na minha vida, não vai me aborrecer. A escolha do outro em relação à sua própria vida não me compete. Se eu não estou de acordo, é só eu não aplicar na minha vida e ponto. Isso também vale para o que os outros vão pensar de mim - se não vai me fazer mal, se não vai atrapalhar a minha vida, nem tão pouco me acrescentar absolutamente nada de bom, o que a outra pessoa pensa a meu respeito também não me compete.
O segundo ponto: a famosa lista de tarefas. É fundamental, ao criá-la, saber exatamente o que é prioridade, o que depende só de mim, e o que depende dos outros. Eu vou fazer exatamente tudo com muito capricho durante o dia, seja com o trabalho, seja com meu autocuidado (e isso inclui academia, ler um livro, cuidar da minha pele, me alimentar e dormir bem e me distrair), seja com minhas obrigações como um ser humano adulto. Tudo dentro do dia listado com graus de prioridade. O que for prioritário será feito de imediato, se não sobrar tempo, o que não é prioridade hoje, se tornará a prioridade de amanhã e tá tudo certo.
Hora de começar e de parar: isso é fundamental para que eu não tenha aquela sensação de que minha vida é movida somente por responsabilidades. O meu tempo na academia será a hora que vou esquecer da vida lá fora, e também meus momentos de lazer, distração e descanso. Mas a hora que eu tenho que cumprir meu trabalho, minhas tarefas e todas as minhas responsabilidades, não é hora de dormir e nem de outra coisa que tire minha concentração necessária.
E por último, mas não menos importante, e a tarefa que mais tenho dificuldade, mas que jamais se tornará impossível: pensar em problema em tempos selecionados. Não posso mais ferver meu cérebro durante a madrugada, ao invés de dormir. Não posso deixar de curtir um fim de semana dentro das minhas possibilidades pra ficar remoendo o que não está ao meu alcance no momento. Não vou mais sabotar meus bons momentos por algo que tem dia e hora para pensar a respeito.
É uma longa jornada, mas que se tornou meu objetivo de vida.
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