Minha avó pede desculpas, de Fredrik Backman

 


Elsa tem sete anos e é diferente. Sua avó tem setenta e sete e é maluca – maluca do tipo ficar-na-varanda-atirando-com-uma-arma-de-paint-ball-em-homens-que-querem-falar-sobre-Jesus. Ela também é a melhor e única amiga de Elsa. Todas as noites, a menina se refugia nas histórias da vovó, na Terra-dos-Quase-Despertos e no reino de Miamas, onde todo mundo é diferente e ninguém precisa ser normal.

Quando a vovó morre e deixa uma série de cartas pedindo desculpas a todas as pessoas com quem já errou, tem início a maior aventura da vida de Elsa. As cartas da vovó a conduzem por um prédio repleto de bêbados, monstros e cães bravos, mas também a levam a descobrir a verdade sobre contos de fadas, reinos e a melhor avó que já existiu.

Minha avó pede desculpas é contado com a mesma precisão cômica e emoção características do autor best-seller de Um homem chamado Ove. É uma história sobre vida e morte, família e amizade, realidade e fantasia, e sobre um dos direitos humanos mais importantes: o de ser diferente.

Sinopse da editora




“Porque nem todos os monstros são monstros desde o inicio, alguns nascem da tristeza”

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Cada livro que leio de Fredrik Backman eu me torno cada vez mais fã do autor. Suas obras sempre caprichadas de diálogos envolventes, que enriquecem suas histórias de maneira ímpar (até mesmo porque ele fala sobre vidas comuns de uma maneira muito deliciosa de acompanhar) são um bálsamo para a nossa experiência como leitor. Eu me arrisco a dizer que ele escreveu “Gente Ansiosa” pensando em quem não curte muito o seu trabalho, porque realmente, Fredrik Backman não escreve histórias para leitores ansiosos. 

Isso porque o autor não tem pressa alguma para desenvolver os seus personagens. Em muitos momentos da história, é comum até sentir raiva de grande parte deles - em alguns livros, você facilmente se irritará com todos os seus personagens - mas até isso é proposital. É assim que Fredrik te pega no pulo para te esfregar na cara “não julgue alguém sem antes conhecer a sua verdadeira história”. Ele sempre nos comprova que grande parte das vezes cada atitude irritante de alguém esconde uma bagagem. 

E é assim que em doses homeopáticas e com um humor bastante peculiar (nada escancarado, mas muito bem articulado e de maneira que até chega a ser inocente) ele vai nos apresentando a verdadeira versão de seus protagonistas e coadjuvantes, muitas vezes até abusando de elementos surpresas aqui e ali que trazem um quentinho a mais no coração durante a leitura, fazendo com que a sua narrativa, sempre em terceira pessoa, mas com um Q de proximidade entre narrador e personagens muito agradável, seja tão curiosa quanto envolvente. 

Em “Minha Avó Pede Desculpas” o autor usa destes mesmos artifícios. Fredrik passa praticamente metade do livro nos apresentando a amizade entre uma avó e sua neta, com riquíssimos detalhes das histórias lúdicas que a avó criava para Elsa (a neta), para ajudá-la a dormir nos dias mais insones. E esse mundo de fantasia é algo que pode deixar muitos leitores impacientes, mas quem não abre mão de uma boa história, deve lutar contra essa ansiedade, pois tudo isso faz muito sentido e tem grande importância para a história. Aliás, são os detalhes desses contos que vão trazer inúmeras respostas não mastigadas para o leitor. 

E como ele poderia fazer diferente se a ideia ali era realmente transmitir o quanto essa amizade entre as duas personagens era intensa e magnífica? Não dá para falar de intensidade somente em dois capítulos. Afinal de contas, é essa magnitude que justifica todas as atitudes da avó até o último capítulo desse livro. 

“Elsa é o tipo de criança que aprendeu cedo na vida que é mais fácil passar pelas coisas se a gente pode escolher a própria trilha sonora” 

A outra metade do livro é quando a missão de Elsa, dada pela avó, é colocada em prática. Antes de morrer, a avó pede a ela que saia à caça de cartas que ela precisa entregar a diferentes destinatários. Em todas elas, há um pedido de desculpas. E assim, através dos olhos de Elsa, vamos sendo apresentados às histórias de cada um desses coadjuvantes, que farão total diferença na vida da menina, e na nossa também. 

É uma delicia acompanhar a evolução dessa narrativa, porque ela não aparenta te prometer nada, mas te entrega tudo. É uma forma de mostrar que há muito o que ser apreciado na simplicidade, no ordinário. É a forma como Fredrik Backman encontrou de falar sobre dores, motivações e superações sem precisar parecer palestrante. E neste livro, especificamente, ele nos mostra como pequenos gestos pode melhorar a vida das pessoas, que a bondade não tem cara e nem maneira certa de se comportar, e que muitas vezes, ela é praticada nos bastidores porque a bondade honesta não precisa de plateia.


Outras obras do autor que já resenhei por aqui:

Gente Ansiosa - resenha no TikTok e Instagram
Gente Ansiosa a série no TikTok e Instagram

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